Greenwashing: o que é, como evitar e como denunciar

Greenwashing: o que é, como evitar e como denunciar

Entrevista com Rafael Rioja Arantes, coordenador do Programa de Consumo Sustentável do Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

A partir do crescente interesse da população por produtos que não agridem o meio ambiente, saudáveis ou ligados em questões do bem-estar animal, diversas empresas recorreram a uma comunicação com apelo ecológico em seus rótulos, muitas vezes abusando de selos, certificados e termos como “ecológico”, “sustentável” ou “verde” para atrair mais consumidores. Entretanto, nem sempre a realidade corresponde à imagem do produto.

A prática denominada greenwashing (lavagem verde) é uma estratégia de marketing enganosa que empresas usam para ludibriar clientes. A ideia é fazer acreditar que produtos e serviços são ecologicamente íntegros. Em nome do ambientalmente correto, a tática induz o cliente a acreditar em benevolentes políticas ambientais de uma marca, ao mesmo tempo em que desvia sua atenção das ações de seus negócios que causam o maior impacto. Além de prejudicar o meio ambiente, também prejudica empresas que estão realmente utilizando práticas sustentáveis. Em consequência, o greenwashing torna mais difícil para os consumidores confiarem em produtos ecologicamente corretos e, a longo prazo, torna os clientes mais céticos em relação aos negócios genuínos e focados na sustentabilidade.

A origem do termo greenwashingA expressão foi cunhada em 1986 por Jay Westervelt, ambientalista americano que escreveu um artigo sobre a prática enganosa da indústria hoteleira. Em setembro de 2022, a palavra foi incorporada ao dicionário de inglês Merriam-Webster, publicação com mais de 180 anos de história e um dos principais fornecedores de informações sobre idiomas da América.

O Blog Cidade AMA conversou com Rafael Rioja Arantes, coordenador do Programa de Consumo Sustentável do Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, sobre a prática de greenwashing no Brasil.

É possível determinar quais setores mais praticam greenwashing?

O que temos observado a partir da perspectiva dos consumidores é que a prática de “greenwashing” está disseminada em diferentes setores. Eles incluem o de alimentos, utilidades domésticas, produtos de limpeza e higiene e cosméticos, e vestuários por exemplo. Em 2019, o Idec divulgou os resultados da avaliação de 509 produtos em relação às alegações de cunho socioambiental, e foram encontradas alegações classificadas como greenwashing em 75% dos produtos de utilidades domésticas, 66% dos produtos de limpeza e 37% de higiene e cosméticos.

Quais são os artifícios mais usados pelas empresas?

Dentre as práticas mais comuns nas embalagens dos produtos, observamos alegações sem provas, informação ou comprovação por parte das empresas. Ou seja, afirmações sobre aspectos de sustentabilidade dos produtos sem que fosse explicitado, com base em referências ou indicadores, o avanço socioambiental da empresa ou do produto. Além disso, “irrelevância” e “vagueza e imprecisão” foram outros aspectos observados ao se utilizar termos genéricos que poderiam induzir o consumidor a achar que os produtos são mais sustentáveis (https://idec.org.br/greenwashing/pesquisa).

Como o consumidor pode identificar a prática de greenwashing?

Uma primeira dica é desconfiar de termos genéricos como “ecológico”, “sustentável” ou “amigo do meio ambiente”. Termos amplos como esses não podem ser usados nas embalagens dos produtos de acordo com a Norma ABNT ISO 14.021/2017. Outra dica é prestar atenção nos selos, ou imagens parecidas com selos nas embalagens. Existem selos de certificadoras que ao menos possuem alguns respaldos e verificações para comprovar alguns critérios dos produtos, mas muitas vezes algumas empresas ou produtos criam imagens com selos próprios que não seguem um padrão mais detalhado para verificação e comprovação. Caso o produto ou a empresa responsável pelo produto não tragam informações de forma transparente e que possam comprovar a alegação que estão trazendo, seja por meio da embalagem ou do site, é uma outra forma de identificar greenwashing.

No Reino Unido e EUA já existem órgãos reguladores com autoridade para investigar e tomar medidas legais contra as empresas. Aqui no Brasil, quais instituições podem atuar para reprimir o greenwashing?

Temos aqui no Brasil a estrutura da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), vinculada ao Ministério de Justiça, com atuação local através dos Procons. Este é um dos caminhos para a denúncia de práticas abusivas, enganosas e que também podem auxiliar para coibir a prática de greenwashing das empresas. Além destes, entendemos que precisam ser criadas leis, normas e critérios mais rígidos para que a responsabilidade socioambiental seja de fato um compromisso praticado de forma contundente por diferentes setores, e não uma prática de alegações.

Qual o caminho para impedir que as empresas sigam com essa prática?

Entendemos que alguns caminhos precisam ser adotados. Os consumidores devem, e estão cada vez mais vigilantes em relação aos diferentes produtos. Melhores práticas ambientais vêm sendo demandadas pela sociedade. Nesse sentido, consumidores podem cobrar diretamente das empresas sobre as alegações dos produtos e pressionar para que as empresas de fato assumam compromissos e práticas com responsabilidade socioambiental de forma contundente e com comprovação. Outra forma, é que as empresas deixem de promover alegações sem comprovação, e que adotem melhores práticas socioambientais, com a transparência e concretude que precisamos para enfrentar a emergência ambiental e climática que vivemos. Para tanto, precisamos de um conjunto de leis, normas e regulamentos bem definidos para coibir, e responsabilizar, empresas por práticas de greenwashing.


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Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
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